19 setembro, 2007

Aquilino Ribeiro no Panteão Nacional

«Aquilino fez da escrita um espelho do mundo e uma arma de intervenção. Foi (e é) exemplo de fidelidade à terra, de fidelidade à Língua Portuguesa, de fidelidade à República e à liberdade», afirmou António Valdemar na cerimónia de trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional.

Ler notícia no Portugal Diário; no site da RTP; no Público (também aqui); infografia sobre o Panteão Nacional; polémica no Diário de Notícias.
Veja-se o resumo da discussão, por Eduardo Pitta. Ver os dois textos de Pedro Mexia sobre o tema.

Sobre Aquilino Ribeiro: na Wikipedia; o link do Instituto Camões; Projecto Vercial.


COMENTÁRIOS PARA A DISCUSSÃO:
«Aquilino Ribeiro já está no Panteão. Algumas vozes – poucas – discordaram. É normal. Sucedeu o mesmo com Amália Rodrigues e Humberto Delgado, como deve ter sucedido com todos os outros inquilinos. Se ninguém discordasse era um forte sinal de que não mereceria estar lá. A unanimidade não engrandece, diminui.» Tomás Vasques no Hoje Há Conquilhas.

«Aquilino (que ainda tive a honra e o prazer de conhecer e ouvir) sempre foi um homem de intervenção, directo, frontal, sem hesitações. Voltou a sê-lo hoje, de novo, pela voz de António Valdemar, reclamando a ausência dos seus livros das recomendações de leitura nos programas escolares. Ele que, apesar de tudo, estava recomendado, há 70 anos, durante o salazarismo, deixou de o ser agora durante o actual regime democrático. Sócrates, presente na cerimónia, fez cara feia e foi o único a não aplaudir.» Nelson de Matos, no Textos de Contracapa.

«A simples ideia de um Estado de direito no Portugal de 1908 é uma curiosa extravagância. O assunto ganharia em ser visto ao contrário: se ficar provada a tese da participação no regicídio (como Mendo Castro Henriques pretende demonstrar num livro a publicar ainda este ano), a homenagem fará todo o sentido. Afinal, Aquilino teria contribuído para o derrube da monarquia.» Eduardo Pitta, no Da Literatura.

«Amanhã – e por mim, por nós (
frenesi), nada obsta – vão descarregar os ossos do escritor e carbonário Aquilino Ribeiro no Panteão Nacional. Nem pelo símbolo, mas pelo espaço a ir ocupar, preocupa-nos se ainda lá cabe. Outrossim, há a levar em conta o que a ética obriga a projectar-se no mundo físico, sendo que figura cultural de um tal gabarito nunca deveria ser deixada às portas da Eternidade posto na horizontal, mas sim da crosta para o centro da Terra, jus se lhe faça à verticalidade. À boa maneira dos astecas: que sempre dará para meter mais um.» Paulo da Costa Domingos, no Blog Frenesi.

«Aquilino Ribeiro, "ateu e republicano que lutou contra várias ditaduras" segundo entrevista da rtp ao Prof. Fernando Rosas, foi transladado para uma Igreja, para ficar ao lado de Sidónio Pais e de Oscar Carmona. Um favor que lhe fizeram, portanto.» Diogo Belford Henriques, no 31 da Armada.

«Nem todos os apaniguados da República estão contentes com a trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Eu, por exemplo, acho que a República não precisava de matar ninguém para ser instaurada. Não concordo com a glorificação de pessoas que fizeram do homicídio uma forma de afirmação política. Nada de meter toda a gente no mesmo saco. Poderá dar jeito mas não é rigoroso nem verdadeiro.» Jorge Ferreira, no Tomar Partido.

«Vão meter, ou já meteram, o Mestre Aquilino no Panteão. Com escândalo de velhas corujas que devem ter saído dos ovos das ainda mais velhas corujas que perseguiram o Mestre, bicando-lhe as canelas. E eu que de Aquilino Ribeiro só um livro lhe consegui ler, passo ao lado da algazarra. Por três razões simples: primeiro, porque o anarquista Aquilino se deve estar nas tintas sobre onde lhe enfiam os restos; segundo, no silêncio do Panteão já lhe dorme a maior parte da obra; terceiro, quem não lhe conhece a obra, por preguiça literária, caso meu, não tem direito aos galões de seu defensor.» João Tunes, no Água Lisa.

«Como o regime está desvalorizado o Panteão fica desvalorizado: depois das raves do Harry Potter em que o Panteão foi "alugado" por 500 euros a uma editora, depois da Amália Rodrigues estar lá, depois do pateta e incompetente do Manuel de Arriaga estar lá, este último com direito a discurso do Sampaio em que diziam as alarvidades do costume sobre o "grande lutador de liberdade", o que é que um grande escritor como o Aquilino faz lá? Esta seria a pergunta simples, ele há tanto escritor igual ou melhor que o Aquilino, porquê este senhor e não outro qualquer? Creio que Aquilino faz lá pouco. Ele faz pouco e estão a fazer pouco daqueles que têm memória. A companhia não é grande coisa: o Guerra Junqueiro, o Garrett e o João de Deus escapam à mediocridade geral, mas também não são grandes figuras universais. Aquilino foi de facto um grande escritor apesar dos constantes regionalismos que fazem dele um escritor pouco capaz de ultrapassar as fronteiras portuguesas. Mas a questão não é essa: Aquilino como cidadão não foi exemplar. Organizou, a par de muita outra gente, um regicídio organizado pela carbonária, instruída pela maçonaria e pago por traidores monárquicos, descontentes com a questão dos tabacos e fósforos. O regicídio foi um crime hediondo, não foi um acto revolucionário, foi um assassinato na praça pública de dois homens, um Rei de portugal e o seu filho. Os regicidas podiam ter morto também D. Amélia e D. Manuel, apenas por serem mulher e filho mais novo de D. Carlos. Um crime que se dá num país democrático onde Afonso Costa era deputado às cortes e onde podia, inclusivamente, apelar ao assassinato do rei sem ser preso, tal como fez em 1906.» Henrique Silveira, no Crítico Musical.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vale a pena ler o site www.reifazdeconta.com onde Duarte Pio é desmascarado sem dó nem piedade.